Jogos sérios em gestão ambiental
Os jogos sérios são ferramentas de interação entre agentes, sensibilizaçáo e aprendizagem com elevado potencial no desenvolvimento de uma gestão ambiental participativa, envolvendo todos os agentes no processo de decisão.
A gestão dos recursos hídricos na região do Algarve tem seguido a reboque do desenvolvimento económico da região, portanto de caráter reativo, e centralista, com o estado a tomar o papel de único definidor das políticas regionais para gestão da água (ver Nunes et al 2006).
Este modelo de gestão não tem dado os melhores resultados, já que afasta os agentes da gestão do recurso, desresponsabilizando-os, e inculcando uma imagem de opacidade no processo de decisão com reflexos no desgaste da imagem de neutralidade das entidades públicas e uma desconfiança generalizada entre os agentes de diferentes atividades económicas e da restante sociedade civil:
Está atualmente a fazer-se um esforço por colocar os diferentes agentes em diálogo, mas esse processo exige que a informação circule entre eles e que o seu nível de conhecimento sobre os recursos hídricos disponíveis seja semelhante.
Isto exige um esforço de comunicação por parte das entidades públicas, e em particular da comunidade científica (ver projeto eGroundwater).
Os agentes envolvidos são:
- Agricultores
- Agentes de turismo
- Organizações não governamentais
- Empresas gestoras da água (Águas do Algarve, SA, responsável pelo fornecimento de água em alta e pelo tratamento das águas residuais)
- Comunidade escolar
- Entidades públicas
- Restantes cidadãos
Os recursos hídricos na região são apresentados na figura seguinte, onde se mostram:
A azul os volumes anuais de água que entram na região do Algarve, quer por via da precipitação (2582 mihões de metros cúbicos/ano, ou hm3/ano), quer por transferências de bacias hidrgráficas do Alentejo (21 hm3/ano).
A vermelho mostram-se as perdas por evaporação e transpiração das plantas (1873 hm3/ano), as escorrências superficiais, em que parte é retido nas barragens e o restante descarrega no mar (num total de 564 hm3/ano), as escorrências para o mar por via subterrânea (166 hm3/ano).
Num ano hidrológico médio (nem húmido nem seco) estão disponíveis cerca de 155 hm3/ano de água para satisfazer as atividades humanas.
Em anos secos o volume disponível anual é bem menor, de cerca de 82 hm3/ano)

O consumos anuais médios são apresentados no quadro abaixo, onde se mostra que a totalidade das necessidades já ultrapassa as disponibilidades anuais médias na região.
O resultado deste desequilíbrio entre disponibilidades de água e procura já se sente nos níveis das águas subterrâneas na região ( e que constituem a maior reserva de água, e tradicionalmente a maior origem de água, já que só há três rios importantes na região, o Arade, o Gilão e o Guadiana).

A figura abaixo mostra o nível da água em furos num aquífero que usamos para exemplo aqui. Trata-se do aquífero da Capina de Faro, onde se fazem sentir os efeitos do uso da água subterrânea para rega de jardins e campos de golfe (Vale de Lobo e Quinta do Lago) e para a agricultura.


Os volumes usados pelas diferentes atividades humanas no local mostram também que as extrações totais (11,2 hm3/ano) são superiores à recarga natural do aquífero (9,2 hm3/ano), o que justifica a descida do nível da água nos furos.
Este problema é maior na região oeste do aquífero, local onde se extrai quase o dobro da recarga.

A consequências já se fazem sentir: veja-se a figura abaixo para o subsistema de Vale de Lobo onde se mostra o nível da água nos furos já abaixo do nível médio do mar.
Na área entre Faro e Olhão as águas subterrâneas apresentam teores de nitratos de origem agrícola acima do valor regulamentar (50 mg/L).


Se as extrações se mantiverem ao nível atual dentro de poucos anos todo o aquífero estará salgado.
Infelizmente esta situação tende e repetir-se noutros aquíferos da região.
Se as reservas de água subterrânea vierem a atingir os níveis previstos, será insustentável manter o nível de atividade económica atual (veja-se a previsão para o nível de intrusão salina neste aquífero para o ano 2100 na figura abaixo), a não ser que se encontrem outras origens de água
Veja-se por exemplo a possibilidade de utilizar água residual tratada com nível terceário, hipótese muito bem recebida pelos principais consumidores: agricultura e agentes turísticos.

Envolvimento dos agentes
Apesar destas evidências, e da clara necessidade de encontrar soluções que permitam uma gestão sustentável dos recursos hídricos, tem sido difícil colocar os agentes em acordo sobre as soluções.
Esta dificuldade prende-se com diversos aspetos, sendo os mais importantes:
- Conhecimento imperfeito sobre o funcionamento do sistema natural e dos balanços por parte dos agentes;
- Conhecimento imperfeito que cada agente tem sobre o modo de gestão dos consumos dos restantes (criando desconfiança);
- dificuldade que os agentes têm em colocar-se "na pele" dos outros;
- desconhecimento sobre os limites do crescimento (que atividades são possíveis tendo em conta os recursos disponíveis);
- desconhecimento sobre o potencial e custo das diferentes soluções técnicas (gestão da ocupação do território, construção de barragens, transvases a partir de outras bacias hidrográficas, utilização de água residual tratada, utilização de água dessalinizada, "rain harvesting", recarga artificial de aquíferos, entre outras).
Jogos sérios
Os jogos sérios são uma das ferramentas passiveis de serem usadas para auxilar a reduzir as dificuldades elencadas acima. Nestes jogos os agentes têm a oportunidade de colocar-se no papel dos outros enquanto jogam. Os jogos podem ser mais ou menos complexos, incluindo os mais complexos modelos de simulação matemática para estimar em cada iteração do jogo quais as consequências das decisões dos jogadores.
A experiêcia tem demonstrado que o entendimento entre os jogadores melhora depois do jogo, e que apreenderam conceitos que os ajudarão a melhorar a gestão da água.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
O desafio
O trabalho que lhes proponho é a criação/adaptação de um jogo sério para gestão dos recursos hídricos no Algarve.
Pode ser orientado para crianças ou adultos, e pode ter qualquer formato. Individual ou em grupo.
O resultado deve ser apresentado na forma de um manual que inclua:
1. Uma introdução aos jogos sérios
2. O objetivo do jogo e a quem é dirigido
3. Os princípios de gestão que se pretendem atingir
4. A forma de jogar (método)
5. Os materiais necessários ao jogo
6. Uma demonstração na forma de vídeo seria bem vinda
Máximo de 15 páginas, letra Times New Roman ou equivalente tamanho 12. A lista de referências e os anexos não contam neste número.
Usar as regras de formatação de relatórios disponível aqui.
Data de entrega: 1 de Julho de 2022
Enviar em formato pdf, com a seguinte designação:
Apelidos(S) do(s) autores - Nome do Jogo.pdf (por exemplo: "Nunes Carvalho Soares - jogo da agua.pdf")
Os melhores jogo serão incluídos como resultado do projeto eGroundwater e colocados online (desde que autorizado, fazendo-se a referência aos autores).
Bibliografia:
Textos (alguns textos de base e exemplos)
Jogos sérios (exemplos) (117 MB)
Recursos:
SCALING UP EXPERIENTIAL LEARNING TOOLS FOR SUSTAINABLE WATER GOVERNANCE IN INDIA
Informação detalhada sobre os recursos hídricos do Algarve (consultar em caso de dúvida): Planos de Bacia Hidrográfica